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"Nhanderu" é quem dá as boas vindas aos visitantes da Casa Cor 2016. A cadeira indígena feita a partir das mãos de guarani-kaiowá é da arquiteta Luciana Teixeira, responsável pela fachada da mostra e, uma das peças desta edição que trouxe o design autoral para o casarão dos Dibo, na Afonso Pena.

Em guarani, "nhanderu" quer dizer Deus, pai de todos e índio rezador. De estrutura de aço inox ou metal e com tecido impermeável elástico, como neoprene, lycra ou helanca, a cadeira é, segundo a arquiteta, resultado da análise do comportamento dos tecidos elásticos tensionados em base rígida, geométrica e circular. Forma que faz referência à habitação tradicional de algumas etnias indígenas, a oca, aliada à pesquisa sobre arte plumária, artesanato, cultura e estética indígena brasileira. Os detalhes vem do artesanato indígena: penas artificiais, bambu, sementes e palha trançada.

Dentro das pesquisas, a arquiteta chegou à historiadora e ativista da causa, Fabi Fernandes, que foi quem fez a ponte e abriu as portas da aldeia Jaguapiru, em Dourados, para Luciana. Em uma visita, a arquiteta explicou o projeto, levou o material e voltou 15 dias depois para receber as peças.

Característica dos guarani, o artesanato é tradicionalmente uma atividade familiar, que desenvolve o trabalho misturando os trançados de palha que reproduzem grafismos cheios de significado que remetem à mitologia ancestral e ao espírito cosmológico indígena, com bambu, matéria-prima local abundante, que junto das sementes, são considerados elementos sagrados, que significam proteção e o fortalecimento do espírito.

Da fabricação, Luciana explica que a cadeira teve a intervenção criativa do seu Jorge e da dona Alda, um dos últimos rezadores guarani. "A ideia surgiu da pesquisa sobre a cultura material dos índios que habitam a região Centro-Oeste do Brasil, no Mato Grosso do Sul, mais precisamente na Grande Dourados, onde vivem espremidos em pequenos pedaços de terra cercados por fazendas de gado e vastos campos de soja e cana", descreve Luciana.

O projeto, de acordo com a arquiteta, tem a intenção de utilizar o design como denúncia da situação dramática dos povos indígenas no Estado, além do desejo de divulgar e fortalecer a rica cultura material deles, através do resgate das técnicas de arte e artesanato produzidas pela etnia.

"O desdobramento da criação destes protótipos será a criação de oficinas para ensinar a Karaí (homem branco), o artesanato indígena, já que há disposição de ensinar e grupos artesãos locais interessados em aprender. Além de criar demanda de trabalho na aldeia, a elaborada técnica ancestral deverá gerar sustento e reconhecimento do valor do índio brasileiro, mostrando a toda sociedade o quanto é rica, exótica e original é nossa cultura", enfatiza Luciana.

Como um todo, a fachada mistura um convite à reflexão dos conflitos indígenas no Estado com o comportamento sul-mato-grossense. "Essa pesquisa me levou à conclusão de que nós vivemos mais ao redor das nossas casas do que dentro. Ou seja, precisamos de um mobiliário com tecidos impermeáveis, para que se possa sentar de biquini, tomar tereré, receber amigos", explica Luciana.

"Nhanderu" divide espaço com as cadeiras "Pantanal Beach" e fazem parte da linha "Litoral Central", criada pela arquiteta em cima do estilo de vida e hábitos no Estado para ambientes como varanda, sala de estar e área externa.

A Pantanal Beach, também presente na Casa Cor, leva os mesmos materiais na estrutura, aço ou metal e tecido impermeável. A inspiração, segundo a arquiteta, vem do estilo de vida de quem vive nos trópicos, sol altas temperaturas e que tornam churrascos e rodas de tereré parte na nossa rotina.

Fonte: Campo Grande News



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